Localização das refinarias, dependência de importações e custo do transporte influenciam diretamente o valor final nas bombas
O preço do combustível no Brasil é resultado de uma combinação complexa de fatores, que vão desde questões logísticas até variações tributárias e de mercado. Segundo dados da Petrobras, com base na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio do litro do diesel S-10 no país, entre 28 de setembro e 4 de outubro, foi de R$ 6,06 — resultado da soma de parcelas da Petrobras, impostos federais e estaduais, custo do biodiesel e margens de distribuição e revenda.
De acordo com o especialista em combustíveis Vitor Sabag, da empresa de tecnologia Gasola, três fatores principais explicam as diferenças regionais no preço dos combustíveis: a localização das refinarias, a capacidade de oferta e a dependência do modal rodoviário.
“Essas variações impactam diretamente o planejamento logístico das empresas, que precisam considerar onde estão os melhores preços para abastecer e reduzir custos de operação”, explica Sabag.
Refinarias e concorrência regional
A presença — ou ausência — de refinarias é um dos fatores que mais influenciam o preço. A Bahia, por exemplo, conta com apenas uma refinaria, privatizada recentemente. Segundo o especialista, as refinarias privadas costumam realizar ajustes de preço com maior frequência, tornando o valor do combustível mais sensível às oscilações do mercado.
“No caso baiano, o que houve foi a troca de um monopólio estatal por um monopólio privado. Isso, por si só, não garante mais concorrência nem preços mais justos. É preciso atrair novos players e ampliar a capacidade de refino em diferentes regiões”, avalia Sabag.
Regiões dependentes da importação
Outro ponto relevante é a dependência de importação. O Nordeste, por exemplo, não possui capacidade suficiente de refino para atender à própria demanda, o que obriga a região a importar parte significativa do diesel consumido. “Esse fator torna o preço mais vulnerável à cotação do dólar e às flutuações do mercado internacional”, destaca o especialista.
Custo logístico e transporte rodoviário
O Centro-Oeste também enfrenta desafios devido à ausência de refinarias. O combustível precisa ser transportado de outras regiões ou portos de importação, geralmente por caminhões, o que eleva o custo do frete e, consequentemente, o preço final nas bombas.
No Sudeste, a situação é oposta. A região concentra a maior parte das refinarias do país e produz mais combustível do que consome, o que garante preços mais competitivos e maior estabilidade.
Planejamento e tecnologia como aliados
Para reduzir custos, Sabag recomenda que empresas de transporte planejem suas rotas levando em conta as diferenças regionais de preço. “Abastecer no ponto certo pode representar uma economia significativa no fim da viagem”, afirma.
Segundo ele, o monitoramento contínuo dos preços e o uso de tecnologia na gestão de consumo são fundamentais para otimizar resultados. “Negociar com postos, acompanhar indicadores de consumo e planejar abastecimentos mais estratégicos fazem toda a diferença no orçamento.”
Caminhos para reduzir desigualdades
Apesar de o transporte rodoviário seguir como principal modal de distribuição de combustíveis no Brasil, o especialista ressalta que há iniciativas para diversificar a logística. O uso de dutos, a cabotagem — impulsionada pelo programa BR do Mar — e os investimentos em ferrovias são alternativas que podem reduzir custos e equilibrar os preços regionais.
Sabag conclui que, em um cenário ideal, o mercado de combustíveis deveria funcionar com preços livres e concorrência equilibrada, refletindo apenas as condições de oferta e demanda. “Mas, enquanto a Petrobras ainda domina boa parte do mercado, continuará tendo força para segurar preços, mesmo diante de oscilações internacionais”, diz.
“As diferenças regionais não são necessariamente ruins”, ressalta o especialista. “Elas refletem realidades distintas de logística, estrutura tributária e estratégias comerciais em cada parte do país.”


